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CRÉDITOS! CRÉDITOS! CRÉDITOS!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

ELE_ Um Louco inesquecível

Eu sou aquelas páginas que ele arrancou, os suspiros que ele abafou, o prazer que ele omitiu, a transgressão, a poesia escondida entre as cartas não entregues...Era pra eu ter sido a brincadeira de uma noite, e, da garrafa de champagne, apenas a terceira taça.Depois tive que ser transformada num segredo,numa espécie de doença fatal.


Eu sou a pessoa pra quem ele ligava de madrugada, a quem ele visitava clandestinamente quando o outro saía. Eu sou o motivo de todas as brigas que ele provocou. Eu sou a concessão dele aos apelos sexuais do outro. E a tentativa de salvar uma relação falida. Mas me tornei um susto, um peso, o imprevisto pra quem tinha sua narrativa sob controle.


Eu sou aquele ponto e vírgula no lugar do ponto final de quem já tinha escrito o último capítulo do seu romance ideal.Ele nem imaginava que pudesse gostar tanto, ir além, sentir saudade quando estivesse sóbrio.Eu sou as metáforas novas, a viagem inventada, os quinze dias na casa de serra sem dar notícias alegando que precisava escrever isolada do mundo.Eu sou o orgasmo mais intenso, a febre entre os lençóis,a dança dos travesseiros coloridos.Eu sou o café-da-manhã na cama, o banho de duas horas, o beijo de vinte e cinco minutos.Eu sou o poema que relata o encaixe dos nossos seios e o beijo de todos os nossos lábios. A história sobre meninas, sobre fadas e o violão encostado na lareira pra desocupar os braços pro abraço mais longo.


Eu sou as páginas que ele desistiu de publicar pra se proteger, se preservar.


Fui arrancada da história dele como essas páginas.Fui escondida entre juras de um falso amor que ele fazia a ela. Eu sou as tantas frases amassadas, descartadas da seleção dos capítulos.Mas sou a poesia escrita, tatuada no corpo. Sou a única digital que ele não conseguiu tirar no banho.

Eu sou essa emoção que ele rasgou da narrativa pra que os holofotes se voltassem todos pra sua história de amor mais convencional_eu seria a quebra da linearidade, a falta de estrutura do texto, o capítulo independente do resto do livro, aquele que sobreviveu sozinho.


Eu sou o silêncio deitado nos quartos,a cor do baton no retrovisor do carro.Eu sou o buquê de tulipas invadindo as tardes desavisadamente.Eu sou o final da espera, o amor de outras esferas.


Mas o que sei dele?Era um louco.Muito bem articulado, sedutor e completamente despudorado.Apertava meus braços com força,mordia minhas coxas com paixão e fúria, puxava meus cabelos, empurrava o meu rosto como quem desiste de dar o tapa.E , quando eu estava absolutamente entregue, quando eu estava quase suplicando a penetração, quando meus quadris se arcavam buscando o encaixe dele, me empurrava pro outro lado da cama e buscava a ela, que nos observava tocando-se com uma timidez que mais parecia culpa.


Sim, ele era um louco. Mas só me possuiria quando ela não mais conseguisse pensar nada além de gemer e balbuciar palavras fraturadas.E ele me abandonaria antes que ela voltasse daquele sonho bonito.


Sim, ele era um louco inesquecível.

(Eu estava pensando em você meu pretinho)